sexta-feira, 8 de outubro de 2010

O que os homens querem da mulher?

Extraído da página de Maria Rita Kehl, para deleite de todos! http://www.mariaritakehl.psc.br
Eu quis lhe dar um grande amor/ mas você não compreendeu/ a vida de um lar (Zeca Pagodinho)

O dia Internacional da Mulher passou longe da minha coluna quinzenal. Assim, vou levar a sério o galanteio dos que dizem “todo dia é dia de vocês” e continuar uma velha conversa que sempre retorna, por volta do 8 de março: afinal, o que querem as mulheres? Sucessivas gerações de homens retomaram a pergunta, desde que Freud confessou sua perplexidade à amiga Marie Bonaparte no começo do século passado.
Se a descoberta freudiana ainda valer e o inconsciente continuar recalcado, o desejo, no sentido radical da palavra, é enigmático para homens e mulheres. Não há distinção de gênero frente à opacidade das representações estranhamente familiares que nos habitam e motivam lapsos, deslizes, sintomas, fantasias. Já no plano das vontades mais pedestres, do destino que damos a essa insatisfação permanente a que se chama vida – talvez aí se possa especular se os homens seriam menos enigmáticos que as mulheres.

Por uma questão de método, vale considerar o ponto de vista dos que, como Freud, se confessam incapazes de satisfazer esses seres ambíguos que somos nós, do sexo feminino. Os homens, talvez para se esquivar da intromissão feminina, declaram ser pessoas fáceis de contentar. Além de sexo, dedicação e carinho (mas sem exagero!) das amadas, querem respeito profissional e, claro, ganhar bem. O que mais? 90% de minha amostragem particular responde: ler o jornal inteiro no domingo, jogar conversa fora com os amigos de bar de vez em quando e ver futebol na TV sem ser interrompidos. Essa opção, há quem troque por uma soneca no sofá.

Parece que com esse pacote de pequenas alegrias, tudo estaria bem. Mas, atenção: as mulheres, convidadas gentilmente a não aporrinhá-los durante suas atividades favoritas, devem estar a postos quando eles solicitarem. O casamento para o homem, disse uma vez Mário Prata, significa botar uma mulher dentro de casa. E depois, sair prá rua. Só que ela precisa estar lá quando o cara voltar, de preferência sem questionar por que ele saiu em vez de se contentar com tudo o que ela tem a oferecer. Melhor fazer essa pergunta ao ex-marido da Amélia, aquela dedicada que ele abandonou em troca da outra, cheia de exigências.
M

as perguntemos também, como meu colega de coluna, Marcelo Paiva, por que tantas mulheres hoje (nem todas! só as de 40 prá cima) não querem mais se casar. Essa pergunta é simétrica àquela formulada pelo historiador da revolução francesa, Jules Michelet, aos homens que no final do século XIX preferiam as aventuras do celibato à responsabilidade do casamento. Michelet lamentava o destino das moças pobres e remediadas que, fora da instituição do matrimônio, ficavam desprotegidas, vulneráveis, sem perspectiva de futuro.


A recusa mudou de lugar? Por que as mulheres de hoje, cumprida a etapa inicial da criação dos filhos, preferem não entrar num segundo ou um terceiro casamento? Hipótese: porque não precisam mais dele. Não do homem, nem do amor: do casamento. Nem todas as que desistem de casar de novo são, como pensa Marcelo, desiludidas com o amor. As mulheres que já se casaram algumas vezes podem ter desistido do casamento porque este existe, até hoje, para tornar confortável a vida – dos homens. Separados, eles procuram imediatamente uma esposa que substitua a primeira, enquanto elas parecem não ter pressa nenhuma de voltar ao estado civil anterior. Isso não quer dizer que tenham desistido de amar. Pode ser que estejam à procura de outras coisas, alem das que o casamento proporciona. Aliás: é nessa hora, quando uma mulher não se contenta mais com o que seu homem lhe oferece, que ele a acusa de não saber o que quer.


Muitas coisas os homens podem nos dar. Amor, prazer, carinho, apoio. Aquele olhar de desejo que embeleza a mulher. E filhos, quase todas queremos os filhos. O que mais? Profissão e independência econômica ficam fora do pacote do amor. Poder, também: mas o verbo é mais instigante que o substantivo. As mulheres querem poder muitas coisas. Depois que os filhos crescem e antes que lhes tragam netos prá cuidar, o que querem as mulheres? É simples: tudo o que não puderam viver até então. Está certo: tudo, tudo, não pode ser. Vá lá, quase tudo. Com vocês ou sem vocês, meus caros; quase tudo. Caberia até perguntar: por que os homens (não todos! só os de 40 prá cima) querem tão pouco?

Basta olhar à sua volta. Uma fila de cinema: 60% de mulheres, 40% de homens (os jovens talvez sejam exceção). Um concerto? 70% prá nós. Exposição de arte, idem. Metrô prá qualquer lugar, fora de horários de pico: mulheres, mulheres. Carnaval, festa-baile: olha lá elas dançando, com ou sem parceria masculina. Viagens, ecoturismo, passeatas - a lista é longa.

Por isso mesmo a mulher pode hoje dar a seu parceiro o que nenhuma geração anterior ao século XX podia dar. Aquilo que o poeta francês Benjamin Pérec chamou de amor sublime: o amor da carne, mais o da sublimação. As três últimas gerações de mulheres, não limitadas ao espaço doméstico, são capazes de conversar sobre quase tudo com seus companheiros. Compartilhar idéias, projetos, ambições, bobagens, piadas, boemia, lutas. A vida pode ser bem boa desse jeito, e o amor, uma conversa sem fim.


O filósofo romeno Cioran afirmou que as mulheres são as novas-ricas do mundo da cultura. Talvez por isso falemos demais. Em compensação, os maridos não são mais os nossos únicos interlocutores.


quinta-feira, 7 de outubro de 2010

As eleições e farsa: uma história recorrente

Era o ano de 1989. Lula, candidato pelo PT e seu adversário, Collor pelo PRN. No último debate da Globo, veio o que seria a facada mortal para eleição do metalúrgico: Collor afirma que Lula irá confiscar a poupança da população. No dia seguinte ao debate, montagem realizada pela Rede Globo acentua o medo. Spots da farsa são transmitidos e retransmitidos.

O resultado é que, amendrontados com a possível perda de suas economias guardadas com esforço naqueles anos de inflação galopante, o voto libertador não acontece. Collor é eleito com cerca de 49% dos votos. Após tomar posse no dia 15 de março de 1990 sua ministra da economia, Zélia Cardoso de Mello, anuncia no dia 16 de março o plano para tentar conter a inflação denominado Plano Brasil Novo, que passou a ser chamado de Plano Collor. A ideia foi bloquear, por 18 meses, os saldos superiores a NCz$ 50 mil nas contas correntes, de poupança e demais investimentos. Era o confisco que ele atribuíra à Lula no debate.

Hoje, a história se repete. O enredo não é o mesmo, mas o roteiro segue a mesma linha ação: atribuir ao adversário, Dilma Roussef, ações que serão implantadas pelo opositor - no caso em questão o candidato do PSDB José Serra.

Simples ilação? Pois vejamos.

Quando Ministro da Saúde do Governo FHC, Serra assinou em 1998 a norma para " Prevenção e tratamento dos agravos resultantes da violência sexual contra as mulheres". O texto normatiza a conduta médica a ser realizada em procedimentos para o aborto em mulheres que sofreram violência sexual. O documento está disponível em vários sítios da internet como por exemplo em http://www.simboragora.com/2010/10/jose-serra-assinou-lei-do-aborto-como.html.

Em 21 de dezembro de 2009, Lula aprova o Decreto 7037 que trata do Programa Nacional de Direitos Humanos que está disponível em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2009/Decreto/D7037.htm.

O documento é apresentado como roteiro para "seguirmos consolidando os alicerces desse edifício democrático: dialógo permanente entre Estado e sociedade civil; transparência em todas as esferas de Governo; primazia dos Direitos Humanos nas relações internas e intrenacionais; caráter laico do Estado (grifo meu); fortalecimento do pacto federativo; universalidade, indivibisilidade ee intredependência dos direitos civis, políticos, econômicos, sociais, culturais e ambientais; opção clara pelo desenvolvimento sustentável; respeito à diversidade; combate às desiguladades; erradicação da fome e da extrema pobreza".

Apresentação do PNDH-3 pode ser obtida em http://portal.mj.gov.br/sedh/pndh3/pndh3.pdf

Nas 25 diretrizes constantes do documento,nem mesmo nos objetivos estratégicos apresentados no documento anterior a palavra "aborto" pode ser encontrada. Então, porque os conservadores católicos se mostram tão resistentes ao PNHD-3?
O motivo está claro no texto da apresentação assinado por Lula : a diretriz de transformar o Brasil em um Estado de caráter laico, o que não agrada aos ministros da Igreja Católica nem os participantes da velha organização Tradição-Família-Propriedade (TFP).

É neste ponto do PNDH-3 que se prendem os adversários de Dilma Roussef. Certamente associam que um Estado laico é um Estado amoral.

Conforme o Professor da faculdade de Direito da UFMG, João Baptista Vilela " Não faz mal, enfim, recordar que moral vem do latim mos, moris, que significa "costumes". Os costumes se formam pelas práticas reiteradas das sociedades, o que supõe serem achadas, por algum motivo ou por vários, boas e merecedoras de acolhimento. Que as religiões atuem na formação dos costumes não é de estranhar. A separação entre o profano e o sagrado é muito mais produto de um esforço mental do que um processo descritivo e exato da complexa experiência humana. Onde está o homem, aí está a interrogação diante do mistério da vida. É, portanto, também o encontro com a transcendência, ainda que seja para negá-la. Pode-se discutir se o homem é ou não um ser naturalmente religioso. Mas não há dúvida de que, tanto quanto nasce livre, cresce, vive e morre sob a convocação permanente do juízo moral. Ser homem, com efeito, é ter consciência do poder de escolha. E são as escolhas que tecem as práticas sociais e fazem a história."

Diz ainda o professor José Batista: O Estado laico nasce com a Revolução Francesa, cuja divisa era justamente a tríade "liberdade, igualdade, fraternidade". O anticlericalismo notório dos arautos da Revolução Francesa não os impediu de proclamar, como seus, ideais que há muitos séculos faziam parte do mais indisputado núcleo das religiões cristãs. Quem pensa que igualdade, liberdade e fraternidade são uma descoberta da Revolução Francesa, certamente nunca leu as Epístolas de Paulo. Tampouco se pode acusar a República Federativa do Brasil de fazer proselitismo religioso porque o preâmbulo de sua Constituição afirma o compromisso com "uma sociedade fraterna".
(Artigo em http://www.ufmg.br/boletim/bol1506/segunda.shtml)

Portanto, os valores que permeiam a ação do Governo Lula, conforme definido no PNDH-3 em nada são contrários à moral que hoje permeia por toda sociedade brasileira.

Entretanto, para o grupo de poder hoje formado alguns por setores da elite econômica, religiosa, cultural a simples menção à construção de um Estado laico é associado a um modelo de socidade dissociado de qualquer valor.

Claramente apoiado por este grupo, José Serra compromete-se com os estamentos desta minoria e, junto com eles, declara sua guerra ao que se pode chamar de continuição do modelo Lula de efetiva conquista dos direitos e garantias fundamentais alencados na Constituição-Cidadã de 1998, que sempre foi anatematizada pelas forças conservadoras.

As armas deste grupo são as mesmas de sempre e se repetem de eleição em eleição, como é demonstrado no comparativo entre episódio do confisco da poupança x PNDH-3.

Portanto, àqueles que acreditam que Serra é o seu arauto, cuidado: assim como Collor, ele irá trair seu acordo e deixá-los à margem da estrada assim que ascender ao poder que ele tanto almeja.

Quanto aos que desejam a verdade e a liberdade, sugiro: instruam-se e informem-se. Nem tudo que a mídia ou panfletos apócrifos oferecem são a verdade. Construa ela você mesmo.

PS - Infelizmente, não consgui o vídeo que foi editado pela Rede Globo que selou o destino do então candidato Lula em 1989, mas ofereço o vídeo no qual a então Ministra Zélia Cardoso de Mello anuncia o confisco.

http://www.youtube.com/watch?v=7KHza2R-C-E

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Os fariseus


Os fariseus eram à época de
Jesus um grupo religioso que tinha como função a manutenção das escrituras e os dogmas instituídos por Moises no deserto. Adversários da mensagem de Jesus, faziam de tudo para desqualifica-lo perante ao povo. Agora, vemos a Igreja Católica novamente a desqualificar Jesus e sua mensagem.

Sou cristã e no epísódio da catalogação de Dilma Roussef como não merecedora dos votos católicos, lembrei imediatamente da belíssima parábola da mulher adúltera. Nela, Jesus nos ensina a sermos piedosos e que não acusemos nosso semelhante sem que estejamos livres de todos pecados. Levantar falsidade sobre alguém é um grande pecado. Nem usar a justa justiça também. De todos os proponentes à presidência no primeiro turno, apenas um sempre teve posição contrária em relação ao aborto. Todos os demais, um dia, se declararam em apoio à questão. Então eu pergunto, porque apenas a candidata Dilma foi demonizada e citada nominalmente? Isso é atitude de um verdadeiro seguidor do Cristo? Está nas escrituras, em João, 13:35. "Nisto conhecerão que sois meus discípulos: se vos amardes uns aos outros." Amaram mais a Serra.

A bandeira de Jesus é a do amor a Deus e ao próximo. Consultei a amigos das mais diversas religiões, evangélicos e espíritas. Até mesmo da Igreja dos Santos do Sétimo Dia. Todos foram categóricos em afirmar que na Igreja deles somente se louva a Deus e se busca os ensinamentos do Cristo. Inclusive, minha irmã, que é presbiteriana, disse-me que o pastor ao ser questionado por um fiel sobre eleição citou : “Daí a César o que é de César; e a Deus o que é de Deus” dizendo que a igreja não iria tratar deste assunto e que cada um votasse com seu coração voltado para máximas do Cristo. Apenas os católicos fizeram esta distinção em suas reuniões.

Gostaria que me explicassem o porquê de tanta polêmica quanto a aprovação do aborto ou a liberação das drogas – sou contra a ambos – se as bebidas alcoólicas são liberadas e o cigarro também. Isso faz com que todos os cristãos sejam obrigados a serem alcoólatras ou viciados em cigarro? A adoção do aborto tornará todas as mulheres católicas ou não em assassinas de fetos? Todos nós tornaremos maconheiros com a liberação das drogas?

Onde está a fé de vocês e de seu rebanho?

Como diz no Salmo 23, “ainda que eu ande pelo vale da sombra e da morte, não temerei mal algum, porque Tu estarás comigo”. Deus espera que resistamos ao pecado e Jesus deu-nos seu exemplo de retidão. Durante o período que esteve entre nós divulgando Sua excelsa mensagem, cumpriu cada vírgula da palavra de Deus.

Deixou-nos o exemplo de mansuetude e perdão; tolerância e amor. Não se envolveu com as querelas políticas de uma Jerusalém invadida pelos idólatras romanos. Ao contrário, pregava a fé em dias melhores e nos dizia que “na casa de meu pai há muitas moradas” e que não temêssemos a morte por defendermos seu nome. Ele não falou em defender dogmas ou preceitos humanos.

Por fim, não há na Terra ninguém maior do que Deus e Jesus: nenhum padre, nenhum bispo, nem mesmo o Papa, pois é um representante.

Espero que os católicos reflitam sobre essa atitude anticristã, pois isso coloca a todos nós, que acreditamos professamos as verdades do Cristo , no mesmo patamar de inidoneidade e irresponsabilidade. As pessoas que possuem uma religião buscam nela conforto espiritual e valores para decidirem sobre suas próprias vidas.

Somos umm país livre e laico e queremos continuar sendo assim, pois se amanhã houver um presidente muçulmano eu vou querer que ele respeite os cristãos, assim como nós respeitamos sua fé.

O que estamos discuntindo é um projeto de desenvolvimento para um país; as verdades religiosas que só cabem no coração de cada um.

Que Deus abençõe o Brasil e livre nosso país da intolerância.