terça-feira, 26 de maio de 2009

Delicado viver - 1


Veja a bailarina à esquerda: observe bem sua posição.
O que se vê além desta imagem?
O equilíbrio sereno diante da mão do mestre
Espalmada em sua direção.
A linha perfeita de um ângulo de 30 graus de inclinação
Projeta para frente a intenção definitiva de ir em frente
Ao mesmo tempo, seu pé direito diz:cautela.


quinta-feira, 21 de maio de 2009

No caminho


Caminho tateando na escuridão.

Olho em frente e vejo o passado tão presente

Que, mesmo na escuridão, tenho medo de abrir

Os olhos para ver o que não queria

Nunca mais olhar.

Mas há um pequena luz

Ela está dentro de mim

Ilumina minh'alma com a força

De um sol.

Então sigo, não sei o caminho

Mas sei que vou chegar.

terça-feira, 19 de maio de 2009

Para que eles não sejam esquecidos

Falar de Gaza poderia ser apenas falar da Palestina que vemos em nossos sonhos, da Palestina de nossos amigos oriundos daquele lugar, da Palestina de mulheres falantes, fortes, inteligentes e generosas, da comida que desperta o paladar, do chá, das inúmeras histórias contadas aos visitantes, enfim, de tudo que pode ser idealizado e vivido através da imaginação.

Mas vamos à Gaza atual, massacrada, sofrida, invadida, vamos à triste realidade de um povo, realidade esta que não cabe em sonhos porque já é um pesadelo. Em Gaza, 40% da população é de mulheres em idade reprodutiva e crianças menores que cinco anos, os homens e idosos compõem os restantes 60%. Após o cruel boicote imposto por alguns países seguido às eleições de 2006, as condições de vida vinham piorando consideravelmente. Pobreza em Gaza é uma condição real, e mais de um terço da população é considerada como ''food insecure'', não tem segurança quanto à alimentação.

Em Gaza, há restrições absurdas e indecentes ao acesso da população aos serviços médicos, restrições tais que são cruciais nas situações de emergência, como as emergências maternas, perinatais, infantis e da população idosa.

As condições de vida das mulheres, homens, idosos, jovens e crianças felizmente são protegidas, mesmo diante da barbárie imposta pelo Estado Sionista de Israel, graças à coesa união e solidariedade dos moradores de Gaza. No entanto, apesar desse fator positivo, pobreza, desnutrição com prejuízo da função cognitiva das crianças, aumento de infecções, depressão em homens, mulheres e idosos e estresse pós-traumático vêm apresentando uma progressão alarmante.

Após o último bombardeio de Israel sobre Gaza, que deixou mais de 1300 mortos e milhares de feridos, muitos dos quais com sequelas permanentes, temos um cenário mais que desolador com a quase completa deterioração das condições socioeconômicas, um desemprego sem precedentes e o aumento absurdo nos preços dos alimentos, precárias condições sanitárias com 300.000 m2 de esgoto sem tratamento, contaminação da terra e da água, deficiência de abrigos e sensação de desamparo quase generalizada.

Em Gaza, 56% da população não tem como se alimentar de forma adequada, pois dependem de ajuda humanitária. Muitos habitantes não têm itens básicos de higiene, somando-se a isso o número elevado de pessoas que não tem mais suas casas e vivem agora em tendas de plástico.

A ausência de eletricidade faz parte do dia-dia dos moradores. Cerca de 63% dela vem de Israel, que como punição à população impede o fornecimento adequado de energia.

A humilhação sofrida em Gaza é um ultraje a todos que acreditam na dignidade humana, pois é impossível não perceber a opressão constante e a insegurança de um povo, principalmente entre os jovens do sexo masculino, que têm consciência do enorme risco que correm de serem assassinados em plena luz do dia.

Nos hospitais, o cenário é desolador ao se deparar com os inúmeros feridos, grande parte com queimaduras de segundo e terceiro graus, e amputações devido às inúmeras bombas. Muitos pacientes já apresentam consequências dos traumas físicos e psicológicos sofridos, como alterações emocionais importantes, principalmente entre as crianças, dores por lesões e necessidade de cuidados de reabilitação, o que é extremamente difícil numa situação de bloqueio, já que Israel dificulta a chegada dos equipamentos necessários, bem como de medicamentos, analgésicos, antibióticos e próteses, e do modo mais vil se recusa a respeitar às solicitações quanto à entrada de ajuda humanitária. A dificuldade também é presente na fronteira com o Egito, em Rafah, pois encontra-se fechada a maior parte do tempo, aberta apenas um ou dois dias por semana, não muito diferente do que acontecia no período do bombardeio, detalhe que explica o pequeno número de pessoas que puderam sair para tratamento no Egito, apenas 266 pacientes.

Graças à ação dos grupos de ajuda humanitária, como da UNRWA, UM Relief and Works Agency, e UK Charity Medical Aid for Palestine, e muitos outros, como médicos voluntários de várias partes do mundo, os moradores de Gaza podem receber algum tratamento e apoio. No entanto, é necessário que se divulgue o sofrimento de toda uma população e que haja pressão suficiente para se alcançar uma ação concreta capaz de promover justiça.

Cláudia Palmeira, médica anestesiologista

Fonte:
www.icarabe.org ─ Instituto da Cultura Árabe

segunda-feira, 18 de maio de 2009

Se meu pai estivesse aqui, nesta Terra

certamente iria se escandalizar com mais esta atitude estúpida levantada contra a Petrobras. Porque só a Petrobras? Quantas empresas estão na prospecçao e distribuição de petróleo? Por que não estão na investigação?

Essa é mais uma das CPI´s inúteis com a qual os congressistas perdem tempo. Já não legislam mais. Querem a qualquer custo ser notícia.


Se meu pai estivesse aqui, ele diria: no tempo de Getúlio as coisas não eram assim...


Anos mais tarde descobri muitas coisas positivas e negativas sobre o Getúlio que meu pai tanto falava. Descobri que havia sido um ditador, que mandou Olga Benário para Alemanha, que criou as leis trabalhistas contra a vontade dos sindicatos.


Getúlio não era de esquerda nem de direita: Getúlio era ele mesmo e se bastava.


Mas havia um detalhe importante: Getúlio amava o Brasil com toda força do seu coração. Coração no qual ele direcionou um projétil quando pensou que mais nada podia fazer. Foi uma pena.


Deixou-nos uma carta: para meu pai e todas as outras gerações. Palavras inesquecíveis.



A carta-testamento de Getúlio Vargas
24 de agosto de 1954



Mais uma vez, as forças e os interesses contra o povo coordenaram-se novamente e se desencadeiam sobre mim. Não me acusam, insultam; não me combatem, caluniam e não me dão o direito de defesa. Precisam sufocar a minha voz e impedir a minha ação, para que eu não continue a defender, como sempre defendi, o povo e principalmente os humildes.

Sigo o destino que me é imposto.

Depois de decênios de domínio e espoliação dos grupos econômicos e financeiros internacionais, fiz-me chefe de uma revolução e venci. Iniciei o trabalho de libertação e instaurei o regime de liberdade social. Tive de renunciar. Voltei ao Governo nos braços do povo.

A campanha subterrânea dos grupos internacionais aliou-se à dos grupos nacionais revoltados contra o regime de garantia do trabalho. A lei de lucros extraordinários foi detida no Congresso. Contra a justiça da revisão do salário mínimo se desencadearam os ódios. Quis criar a liberdade nacional na potencialização das nossas riquezas através da Petrobrás, mal começa esta a funcionar, a onda de agitação se avoluma. A Eletrobrás foi obstaculizada até o desespero.

Não querem que o trabalhador seja livre. Não querem que o povo seja independente.

Assumi o Governo dentro da espiral inflacionária que destruía os valores de trabalho. Os lucros das empresas estrangeiras alcançaram até 500% ao ano. Na declaração de valores do que importávamos existiam fraudes constatadas de mais de 100 milhões de dólares por ano. Veio a crise do café, valorizou-se o nosso principal produto. Tentamos defender seu preço e a resposta foi uma violenta pressão sobre a nossa economia a ponto de sermos obrigados a ceder.

Tenho lutado mês a mês, dia a dia, hora a hora, resistindo a uma pressão constante, incessante, tudo suportando em silêncio, tudo esquecendo a mim mesmo, para defender o povo que agora se queda desamparado.

Nada mais vos posso dar a não ser meu sangue. Se as aves de rapina querem o sangue de alguém, querem continuar sugando o povo brasileiro, eu ofereço em holocausto a minha vida. Escolho este meio de estar sempre convosco.

Quando vos humilharem, sentireis minha alma sofrendo ao vosso lado. Quando a fome bater à vossa porta, sentireis em vosso peito a energia para a luta por vós e vossos filhos. Quando vos vilipendiarem, sentireis no meu pensamento a força para a reação. Meu sacrifício vos manterá unidos e meu nome será a vossa bandeira de luta.

Cada gota de meu sangue será uma chama imortal na vossa consciência e manterá a vibração sagrada para a resistência.

Ao ódio respondo com o perdão.
E aos que pensam que me derrotaram respondo com a minha vitória.
Era escravo do povo e hoje me liberto para a vida eterna.
Mas esse povo de quem fui escravo não mais será escravo de ninguém.
Meu sacrifício ficará para sempre em sua alma e meu sangue será o preço do seu resgate. Lutei contra a espoliação do Brasil. Lutei contra a espoliação do povo. Tenho lutado de peito aberto. O ódio, as infâmias, a calúnia não abateram meu ânimo. Eu vos dei a minha vida. Agora ofereço a minha morte. Nada receio. Serenamente dou o primeiro passo no caminho da eternidade e saio da vida para entrar na história
Getúlio Vargas


Getúlio : que Deus, em sua infinita bondade e misericórdia, o ampare e ilumine seu caminho na vida espiritual

quarta-feira, 13 de maio de 2009

Eles querem me formatar



Sim, eles querem que eu seja como uma massa amorfa no meio de tantos outros que já estão modelados.

Sim, eles me oferecem as glórias e as moedas para ouro para que eu seja assim.

Não, é o que eu digo, não mais prisões de alma e de consciência.

Não, agora eu sou livre.

Eu vivo e experimento a liberdade.

Ela está em mim e meus poros transpiram esperança.

Não, há apenas alegria de estar viva.

Eu sobrevivi.

Eu sobreviverei.

Eu serei

eu mesma

para sempre

quinta-feira, 7 de maio de 2009

Sobrevivendo

Este é Flocke. Alguém ainda se lembra dele?
Foi o ursinho que a mãe atacou e por isso alguns veterinários alemães pensaram na possibilidade de sacrificá-lo. Os profissionais consideraram que seriam impossível que Flocke sobrevivesse sem a ajuda de sua mãe.
Mas muitos alemães acharam a autanásia do ursinho um absurdo e protestaram contra semelhante atitude.
Flocke, com o auxílio de um grupo de outros profissionais, conseguiu sobreviver e hoje é um ursão e vive no zoológico de Nuremberg.
Flocke é uma lição de sobrevivência para mim. Ele venceu todos os prognósticos contrários, toda descrença na sua capacidade de lutar para se manter vivo e crescer.
É Flocke, você e eu estamos aí, no mundo, apesar daqueles que pensavam que não poderímos estar.
Boa sorte, Flocke.

domingo, 3 de maio de 2009

Eduardo Galeano: os nomes e as coisas


Na era vitoriana era proibido fazer menção às calças na presença de uma senhorita.
Hoje em dia, não fica bem dizer certas coisas perante a opinião pública:
O capitalismo exibe o nome artístico de economia de mercado;
O imperialismo se chama globalização;As vítimas do imperialismo se chamam países em via de desenvolvimento, que é como chamar de meninos aos anões;
O oportunismo se chama pragmatismo;
A traição se chama realismo;
Os pobres se chamam carentes, ou carenciados, ou pessoas de escassos recursos;
A expulsão dos meninos pobres do sistema educativo é conhecida pelo nome de deserção escolar;
O direito do patrão de despedir sem indenização nem explicação se chama flexibilização laboral;
A linguagem oficial reconhece os direitos das mulheres entre os direitos das minorias, como se a metade masculina da humanidade fosse a maioria;
Em lugar de ditadura militar, se diz processo.
As torturas são chamadas de constrangimentos ilegais ou também pressões físicas e psicológicas;
Quando os ladrões são de boa família, não são ladrões, são cleoptomaníacos;
O saque dos fundos públicos pelos políticos corruptos atende ao nome deenriquecimento ilícito;
Chamam-se acidentes os crimes cometidos pelos motoristas de automóveis;
Em vez de cego, se diz deficiente visual;Um negro é um homem de cor;
Onde se diz longa e penosa enfermidade, deve-se ler câncer ou AIDS;Mal súbito significa infarto;
Nunca se diz morte, mas desaparecimento físico;Tampouco são mortos os seres humanos aniquilados nas operações militares: os mortos em batalha são baixas e os civis, que nada têm a ver com o peixe e sempre pagam o pato, danos colaterais;
Em 1995, quando das explosões nucleares da França no Pacífico Sul, o embaixador francês na Nova Zelândia declarou: “Não gosto da palavra bomba. Não são bombas. São artefatos que explodem”;
Chama-se Conviver alguns dos bandos assassinos da Colômbia, que agem sob proteção militar;
Dignidade era o nome de um dos campos de concentração da ditadura chilena e Liberdade o maior presídio da ditadura uruguaia;
Chama-se Paz e Justiça o grupo militar que, em 1997, matou pelas costas quarenta e cinco camponeses, quase todos mulheres e crianças, que rezavam numa igreja do povoado de Acteal, em Chiapas.
ASSIM, JOGA-SE COM AS PALAVRAS PARA MENTIR, ILUDIR E CONFUNDIR.
REFLITA SOBRE ESTAS SÁBIAS PALAVRAS DE GALEANO.
HÁ SEMPRE O QUE APRENDER COM O OUTRO.