domingo, 22 de abril de 2012

Somos um fluxo de receitas



As privatizações estão se acumulando. Primeiro foi o gás. Depois as empresas de telefonia, de petróleo, de eletricidade, as moradias públicas, distribuição de água, as ferrovias e os aeroportos. Existem medidas para obliterar o conceito de moradia social; os hospitais do NHS [o SUS britânico] serão construídos e gerenciados privadamente; agora o David Cameron quer que empresas privadas e governos estrangeiros ‘invistam’ nas rodovias do Reino Unido. O que isso significa? O caráter episódico da privataria — um setor à venda, pausa, outro setor à venda — esconde a metaprivatização que já atravessou a barreira dos 50%. Os bens essencialmente públicos que Margareth Thatcher, Tony Blair e agora Cameron vendem não são as estações, os trens ou hospitais. É o público, em si. Somos nós.

O bem que torna a água, as estradas e os aeroportos valiosos para um investidor, estrangeiro ou não, é o povo que não tem escolha. Não temos escolha mas pagar o preço que nos é cobrado nos pedágios. Somos um fluxo de receitas; somos locatários de nossa própria terra, definidos pela coleção de taxas privadas que pagamos para existir nela. Se não é óbvio que somos vendidos aos investidores, é parcialmente pela forma como a ideia de privatização nos é vendida, hipnoticamente familiar. Primeiro vem a desqualificação do serviço existente, como se uma verdade universal estivesse se manifestando: as escolas/hospitais/rodovias estão caindo aos pedaços/desabando/são de segunda classe. Então, vem a rejeição da responsabilidade governamental: não temos dinheiro, os burocratas são incompetentes. Finalmente, a solução: investimento privado.

E o investimento vem e as coisas ficam melhores. Com certeza se o setor privado não pagasse para trocar os encanamentos, reformar as rodovias velhas e as usinas de energia, seríamos obrigados a pagar mais impostos? A verdade é que já pagamos impostos mais altos. Só que eles não são chamados de impostos. Nosso sistema de distribuição de água está sendo reformado por causa de um grande aumento no preço dos impostos. Mas não é o que se diz. É chamado de “conta d’água”. Como Chris Giles explicou recentemente no Financial Times, as contas de água subiram duas vezes mais que a inflação desde a privatização. Pagamos um imposto ferroviário: é chamado de aumento de tarifa. Pagamos um imposto de energia, na forma de tarifas mais altas e assim por diante.

Ao embrulhar os cidadãos britânicos e vendê-los, setor por setor, a investidores, o governo torna possível manter os impostos tradicionais baixos ou até os corta. Ao sair de um sistema em que os serviços públicos são mantidos por impostos para um sistema em que são mantidos pelas contas pagas pelos usuários, deixamos um sistema no qual os ricos são obrigados a ajudar os pobres para um sistema no qual os de baixo bancam os serviços, como uma rede de estradas, que os ricos recebem pelo que, para eles, é uma pechincha.

Haverá uma revolta? Houve uma nos anos 90 na ilha de Skye. Ostensivamente, o setor privado ia construir algo que os ilhéus não conseguiriam de outra forma: uma ponte para substituir a balsa. Mas os ilhéus entenderam o que estava acontecendo. Eles estavam sendo vendidos como fluxo humano de recursos. Em vez da ponte ser construída por uma pequena porção do orçamento do governo, foi construída por uma empresa privada com a garantia de que ela poderia cobrar altos pedágios. Menos impostos para todos os britânicos, um grande imposto privado para os ilhéus. Uma grande campanha de desobediência civil terminou em 2004, quando os ilhéus, remando contra a maré, conseguiram que a ponte fosse nacionalizada. A ilha de Skye é pequena. A Grã Bretanha é uma grande ilha. O plano é o mesmo. Vamos ver o que vai acontecer.
por James Meek, na London Review of Books, em 20.04.2012

segunda-feira, 16 de abril de 2012

O outro


O outro é o sujeito dos deveres.


Hoje, só o "eu" tem direito de apontar o dedo e acusar.


Porém, esquece de olhar para seus próprios atos e sua alma


E perguntar diante do espelho:


Se ali eu estivesse, não seria igual?

domingo, 15 de abril de 2012

Servidores e GDF: farinha do mesmo saco

Hoje, 15/5, fez uma semana que o Saulo foi assassinado. A PM terminou seu movimento "Obrigado, bandido" e os professores continuam em greve, colaborando para que outros crianças e jovens se transformem em assassinos. 


Tenho conversado com muitas pessoas que trabalham no DF e que não são funcionários públicos. É uma grande massa de pessoas que tem carteira assinada, salários médios de R$3.000,00 e luta muito pra sobreviver em jornadas que muitas vezes chegam a 10 horas por dia.


Enquanto isso, os funcionários públicos do DF, em sua maioria, trabalham pela manhã ou à tarde.


Tem tempo de levar o filho à escola, ir à academia para ficar bonito e saudável, fazer compras no supermercado.


Enquanto isso, o povão da CLT se espreme em ônibus sem condições porque o MPTDF não está nem aí para as condições desumanas do transporte público. O MPTDF também não está preocupado com os índices de violência das cidades satélites de Brasilia.


Mulheres são estupradas e homens de bem assassinados diante da família porque a PM acha que eles ganham pouco, mesmo sendo o maior salário do Brasil. Só pra começar como um simples soldadinho são R$ 4.000,00 - quase o que um sargento do exército ganha após pelo menos 5 anos de uma vida miserável em fronteiras lotadas de traficantes de drogas e armas. Aqui no DF, a PM se dá ao luxo de dormir na viatura sem se preocupar em levar um tiro na cara como no RJ e em SP!


No DF, um professor apenas com graduação que pode ser obtida em qualquer faculdade pela Internet tem remuneração inicial de R$ 3.069,08 por 40 horas semanais, somado o salário-base a gratificações. Se estiver no regime de dedicação exclusiva, o salário inicial, com as gratificações, é de R$ 4.226,47. Se o professor tiver mestrado, a remuneração sobe para R$ 3.572,60 (R$ 4.923,65 em dedicação exclusiva). Com doutorado, o professor ganha R$ 3.732,27 de salário inicial (R$ 5.144,73 em dedicação exclusiva). OS DADOS SE REFEREM AO INÍCIO DE CARREIRA.


E tem mais: o GDF paga  para o professor estudar e melhorar seu salário!


Além disso, de janeiro até o dia 10 de março, quase 1,7 mil professores tiraram licença para tratamento de saúde - uma média de 24 por dia, sendo que 30 estão em recuperação de dependência química; 455 estão sem trabalhar para cuidar de um parente doente (!), número que, aliás, vem subindo a cada mês.


Imagine uma trabalhadora da CLT chegar para o patrão e dizer: "ô chefe, segura aí que eu preciso cuidar da mamãe que está doente". É demissão na hora, sem perdão.


Isso sem contar com auditores fiscais que não recuperam os tributos que são retidos dos consumidores pelas empresas e que não são recolhidos aos cofres do GDF; com os fiscais da AGEFIS que permitem toda sorte de atividades ilegais, fazendo vista grossa; dos juízes do TJDFT que demoram mais de seis meses para julgar um caso nos Juizados Especiais; médicos que não querem trabalhar 20 horas em hospitais por um salário de R$ 8.000,00; enfermeiros e auxiliares de enfermagem que não se importam com o sofrimento das pessoas e muitas vezes as deixam morrer à míngua porque "estão velhas e vão morrer mesmo".


E a estes se somam muitos outros servidores que não estão nem um pouco preocupados com os jovens, mulheres e homens presos e que são pagos para garantir sua ressocialização; com aqueles que foram contratados para cuidar do trânsito e que simplesmente desaparecem nos momentos de "pico" dos engarrafamentos;  com a omissão e o desdém dos que trabalham nas divisões administrativas e que são responsáveis pela logística e administração da máquina pública.


O fato é que o cidadão comum está cansado. Cansado de ser enganado pelos políticos e pela grande maioria de servidores do DF.


Apenas uma pequena parte dos servidores é composta por pessoas que realmente quer fazer algo pela nossa cidade. A maioria só quer uma cadeira ( ou viatura) e um contra-cheque bem gordo no fim do mês e dane-se o povo.


Fica a minha pergunta: qual é diferença de um servidor público omisso e preguiçoso de um político que usa o cargo público para obter vantagens pessoais?


Para mim, cidadã contribuinte, a diferença é NENHUMA.


Por isso, aqui vai um conselho para os servidores do GDF: se vocês querem realmente um reajuste de salário, trabalhem com afinco, eficiência e dentro da lei.


Assim, quem sabe, quando o resultado do trabalho começar a aparecer e incomodar os políticos que vocês chamam de corruptos, eles resolvem dar aumento para vocês pararem de trabalhar!









domingo, 8 de abril de 2012

Obrigado, bandido?!

O trecho extraído do jornal Correio Brasiliense indigna a qualquer cidadã (ão) de Brasília.

Faz exatas duas semanas que eu elogiava a PM do DF a uma colega paulista da empresa na qual trabalho.

Vou ligar para ela amanhã para mudar meu depoimento.

Infelizmente vou ter que lhe dizer que a PMDF comemora o assassinato de um jovem pai de família diante de sua esposa e filha.

Sei que estas pessoas sem caráter moral e sem escrúplos não são a maioria, mas, infelizmente, todos bons pagarão pelos maus policiais.

Somos todos Saulo!

Que Jesus lhe abençoe, amigo! e lhe lhe proveja um bom retorno à casa de nosso amado Pai e que console sua família neste momento de infinita dor.

Nós cá ficaremos para protestar por sua morte e pelas últimas 25 pessoas assassinadas em Brasília pela omissão da PMDF.